Poema de Renata Pallottini


O GRITO


se ao menos esta dor servisse

se ela batesse nas paredes

abrisse portas

falasse

se ela cantasse e despenteasse os cabelos


se ao menos esta dor servisse

se ela saltasse fora da garganta como um grito

caísse da janela fizesse barulho

morresse


se a dor fosse um pedaço de pão duro

que a gente pudesse engolir com forçade

pois cuspir a saliva fora

sujar a rua os carros o espaço o outro

esse outro escuro que passa indiferente

e que não sofre tem o direito de não sofrer


se a dor fosse só a carne do dedo

que se esfrega na parede de pedra

para doer doer doer visível

doer penalizante

doer com lágrimas


se ao menos esta dor sangrasse


"O Grito"

Renata Pallottini

(Original em A Faca e A Pedra, 1965)

In Obra Poética

Editora Hucitec, São Paulo, 1995

Poema de Mario Quintana


Canção do dia de sempre


Tão bom viver dia a dia...

A vida assim, jamais cansa...


Viver tão só de momentos

Como estas nuvens no céu...


E só ganhar, toda a vida,

Inexperiência... esperança...


E a rosa louca dos ventos

Presa à copa do chapéu.


Nunca dês um nome a um rio:

Sempre é outro rio a passar.


Nada jamais continua,

Tudo vai recomeçar!


E sem nenhuma lembrança

Das outras vezes perdidas,

Atiro a rosa do sonho

Nas tuas mãos distraídas...


Mário Quintana

Poema de Mario Quintana


BILHETE


Se tu me amas,

ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,

enfim,

tem de ser bem devagarinho, Amada,

que a vida é breve,

e o amor mais breve ainda...


Mário Quintana

Poema de Cecília Meireles


Lua adversa

Tenho fases, como a lua.

Fases de andar escondida,

fases de vir para a rua...

Perdição da minha vida!


Tenho fases de ser tua,

tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm

no secreto calendário

que um astrólogo arbitrárioi

inventou para meu uso.


E roda a melancolias

eu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém

(tenho fases, como a lua)


No dia de alguém ser meu

não é dia de eu ser sua...

E, quando chega esse dia,

o outro desapareceu...


Cecília Meireles

Entrevista com Maurício de Sousa



Dorinha é deficiente visual. Paralaminha anda de cadeiras de rodas e Xaveco é filho de pais separados. Estes são os novos personagens da Turma da Mônica. Em entrevista ao RIO MÍDIA, Mauricio de Souza conta que resolveu criá-los para exercitar a cidadania e o respeito pelo próximo entre seus personagens. “Justamente por entender que se pode educar por meio das histórias em quadrinhos, decidi aumentar a Turma. Os novos integrantes, portadores de deficiência, devem ensinar muita coisa, principalmente na área do relacionamento humano. Já o Xaveco poderá, por exemplo, ser referência para alguma dúvida ou algum tipo de situação mal resolvida por um dos nossos pequenos leitores”, explica.
No processo de criação de suas histórias, Mauricio revela que determinados temas são tratados de forma velada, às vezes, na forma de fábulas, para que a revista não se torne pesada, carregada de cores fortes de realismo. “Esta não é a nossa proposta. Mas não podemos deixar de falar, nem que seja de maneira indireta, dos preconceitos, dos cuidados com o meio ambiente, do respeito aos idosos, dos cuidados com a saúde, etc”.
Para completar a fase de sucesso da Turma da Mônica, agora em outubro, Mauricio anuncia parceria com os Ministérios da Cultura e da Educação para produzir uma série de 60 programas educativos voltados para crianças de 3 a 12 anos. Confira parte da entrevista:
Há algum critério na escolha dos temas das histórias?
Mauricio de Souza - Costumo dizer aos nossos artistas que eles têm que se perguntar se o que estão fazendo ali, escrevendo, desenhando ou planejando um produto de licenciamento, poderá ser usado pelo seu filho. Se a resposta for positiva, temos boa chance de atender, sem problemas, a boa parte do público.
Mas de que forma temas como preconceito, sexualidade, violência, trabalho infantil são abordados?
Mauricio de Souza - Alguns temas são tratados de forma velada, às vezes, na forma de fábulas, para que a revista não se torne pesada, carregada de cores fortes de realismo. Esta não é a proposta de nossas revistas. Mas não podemos deixar de falar, nem que seja de maneira indireta, dos preconceitos, dos cuidados com o meio ambiente, do respeito aos idosos, dos cuidados com a saúde, etc. Mas outros assuntos como violência, trabalho infantil e sexualidade não cabem exatamente na proposta das revistas. Há outros meios de comunicação que tratam deste assunto. Além disso, a criança no seu dia-a-dia, na vida vivida, já tem acesso a estes conteúdos. Esperamos que este acesso esteja sendo monitorado pelos pais, professores ou por pessoas de bem.
A criação dos três novos personagens (Dorinha, Paralaminha e do Xaveco) é fruto deste trabalho de produção? De onde surgiu esta idéia e qual o objetivo de integrá-los à Turma da Mônica? É possível educar por meio das histórias em quadrinhos?
Mauricio de Souza - Justamente por entender que se pode educar por meio das histórias em quadrinhos, resolvi criar personagens portadores de deficiência para exercitar a inclusão no meio dos nossos personagens. Os personagens novos, portadores de deficiência, devem ensinar muita coisa à Turminha. Principalmente na área do relacionamento humano. O personagem filho de pais separados, o Xaveco, poderá, por exemplo, ser referência para alguma dúvida ou algum tipo de situação mal resolvida por um dos nossos pequenos leitores. A Dorinha é uma deficiente visual e o Paralaminha, utiliza cadeira de rodas. Eles serão abordados e tratados como qualquer outro personagem. Não queremos estigmatizá-los.




Fonte: http://www.multirio.rj.gov.br/riomidia/por_entrevista_home_topo.asp?id_entrevista=7

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